Todo
o português é um governante em potência, pois não há um que não se imagine um
génio político que conseguiria resolver instantaneamente todos os problemas do
país, bastando para isso que “fosse ele a mandar”. Apenas os próprios políticos
quando ascendem aos cargos de ministros e secretários de Estado parecem perder
esta sabedoria, adoptando rapidamente posturas erráticas, como se não tivessem
previsto, de todo, as dificuldades em aplicar os programas que delinearam ou,
mesmo ultrapassadas essas dificuldades, espantam-se pelos resultados não serem
os esperados.
Os
governantes “modernos”, como José Sócrates, perceberam que podia ser mais
eficaz não ter qualquer problema real mas apenas uma estratégia de embuste,
aproveitando o tempo de governação para fazer umas negociatas para os amigos,
deixando a factura para outros pagarem. Utilizando uma estratégia de acusação e
vitimização, o antigo primeiro-ministro completou o serviço com eficácia dado
que contava com uma comunicação social subserviente e, caso isso não bastasse, tinha
ainda à sua disposição uma série de mercenários políticos contratados para
lançarem campanhas terroristas em fóruns de jornais, blogs e em outros instrumentos
afins, visando lançar o descrédito contra qualquer possível voz discordante.
Depois de ter arruinado o país, José Sócrates foi viver para Paris de forma
principesca, apesar de não ter rendimentos declarados que possibilitem tal
estilo de vida. Mas os poucos que se indignaram com tal conduta foram
largamente superados por aqueles que, numa recente sondagem promovida pelo
Diário Económico já depois da sua saída do governo com o país sob resgate, o
elegeram como o melhor primeiro-ministro de sempre:
A
vida política tornou-se numa piada grotesca, pelo que caberá questionar se vale
a pena conceber um programa de governação. Afinal, planos já há muitos, cada
português tem o seu, naquela ingenuidade de quem não percebe que o despiste
aguarda apenas a chegada à primeira curva. Existem também os planos dos
oportunistas políticos, cujas verdadeiras intenções são quase sempre o inverso
daquilo que propagandeiam. E existem ainda os planos dos sábios naïfs, que
acabam muitas vezes por servir de fachada para os planos dos oportunistas.
No post
seguinte delinearei um programa de governação que chamo de ideal não em sentido
utópico, de tentar construir um país perfeito, mas porque junta, de forma
concertada, aquele que me parece o conjunto das medidas mais acertadas e
urgentes a tomar. Muitas delas que foram discutidas isoladamente em vários
espaços físicos e virtuais, mas perdem dessa forma toda a sua validade por
serem vistas atomisticamente e não articuladas numa visão mais alargada. Tenho
noção que algumas destas medidas e o conjunto em si podem parecer extremamente
radicais. Ainda para mais, concedo de imediato que todas as medidas são de
aplicação prática quase impossível. Sendo assim, faz ainda algum sentido perder
tempo com este tipo de especulações?
A
resposta é afirmativa, no meu entender, principalmente por duas razões. A
primeira relaciona-se com uma tentativa de identificação dos verdadeiros
inimigos de Portugal. Quando digo que as medidas são de aplicação prática
impossível, tal não se deve ao facto de serem auto-contraditórias em si ou de
serem muito utópicas e desligadas da realidade. Pelo contrário, são medidas
relativamente fáceis de aplicar se houvesse “vontade política”. Esta “vontade
política” é, na realidade, um chavão que se generalizou há alguns anos, que
esconde a ignorância daqueles que não chegam a compreender aquilo que eles
mesmos propõem. Uso aqui, portanto, a noção de “vontade política” em sentido
irónico, porque os verdadeiros entraves são pessoas reais, geralmente
associadas entre si de alguma forma, e que constituem os verdadeiros inimigos
de Portugal, que pretendo identificar quando abordar posteriormente cada uma
das medidas em detalhe.
A segunda
razão prende-se com uma questão ainda mais profunda. O ambiente de crise
potencia um ambiente de desespero gnóstico, para o qual surgem “naturalmente”
uma série de alternativas, todas desastrosas, como a adesão a algum socialismo
messiânico ou a um modo de vida niilista, seja passivo ou hedonista. Em
qualquer dos casos, há sempre uma desistência deste mundo, a crença de que ele
é intrinsecamente mau. Assim, as massas sem qualquer perspectiva de futuro são
conduzidas pelas elites especialistas em construções de futuros utópicos ou
então dominadas por oportunistas que apenas se preocupam com o curto prazo. A
minha intenção é, pelo contrário, recentrar a análise na realidade, partindo do
princípio que o nosso mundo é essencialmente bom, apesar de ter falhas
monstruosas. Para isso há que abandonar tanto os planos utópicos de um futuro
que nunca irá chegar, assim como os planos de curto prazo, pragmáticos, ditos
realistas e ponderados.
Então, apesar de ser um
programa irrealizável no momento, acredito que é o único que realmente pode
endireitar o país. Que estas reflexões algum dia cheguem a influir na
governação do país é possibilidade remota, mas tudo o que a “civilização” criou
de bom também surgiu de uma fantasia ociosa e não, ao contrário do que diz o
mito hegeliano, do movimento imparável das forças históricas impessoais. O desprezo pelos planos de curto prazo
não implica que estes não sejam necessários, antes quer dizer que o seu valor
apenas pode ser medido numa escala mais alargada. O imediato não tem sentido, é
o átomo que se desfaz a si mesmo. A conciliação do ideal (não utópico) com as
circunstâncias particulares é precisamente, em termos sociais, a arte política.
É essencial saber viver esta tensão, sem cair em nenhum dos extremos. Tal não é
acessível a pessoas de carácter vulgar e, menos ainda, aos infames, que
constituem a quase totalidade dos actores políticos.
1 comentário:
Mário,
Siga em frente. É preciso mirar um plano superior para se chegar a algum lado. Não fazer isso torna o homem, por mais sagaz que seja, numa pena conduzida por aquilo que nos vendem como "os ventos da História".
Um abraço.
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