O
que supostamente despoletou a manifestação de 15 de Setembro foi a
redistribuição da TSU (que será abordada noutra ocasião),
diminuindo a contribuição das empresas e aumentando a dos
trabalhadores. Na linguagem do Partido Comunista, isto seria roubar
aos trabalhadores para enriquecer o grande capital. Curiosamente, os
"grandes" capitalistas e os "representantes" do
patronato concordaram com isto e recusaram logo esta redução dos
custos do trabalho, que tão insistentemente tinham vindo a pedir.
Mais significativo ainda foi não terem apresentado, de forma
coerente, qualquer proposta alternativa, como se o ideal para as
empresas fosse manter tudo como está. Os "representantes"
do patronato, com a sua reacção imediata, não tiveram tempo para
averiguar entre os seus representados se a medida podia ajudar alguma
coisa, nomeadamente entre aquelas empresas que estão no limite entre
fechar ou continuar em actividade, pelo que convinha saber quem eles
representam realmente. Note-se que em nada disto suponho a justiça
ou eficiência da medida anunciada pelo governo, mas precisamente
assinalo que ninguém se interessa em saber o que está em causa.
Afinal,
que tipo de empresários temos nós? As exportações portuguesas
tiveram um aumento notável nos últimos anos. Os mercados externos
não se abriram de repente, sempre estiveram disponíveis, mas antes
qualquer empresário preferia colar-se ao Estado, de forma mais ou
menos directa, mas a teta estatal ameaçou secar abruptamente. Então,
aqueles empresários mais capazes e perspicazes fizeram o que tinham
a fazer, mas os outros entraram em pânico. António Borges chamou-os
de ignorantes, mas eles não são nem sábios nem ignorantes, são
apenas uns espertos que viveram à conta de um socialismo que agora
se mostra inviável. Toda e qualquer contestação ao governo da
parte do "grande capital" é apenas mero pretexto para
forçar o governo – este ou outro que lhe suceda – a se tornar
mais dócil e a conceder benesses de forma encoberta, os famosos
"estímulos à economia". Mas os empresários beneficiados
serão sempre aqueles com maior poder de influência, pelo que todos
os outros estão a ser burlados por aqueles que supostamente os
representam.
A
isto há que juntar as pressões dos detentores de fundações, que
não se contentam com as isenções de impostos e reclamam sempre
mais e mais subsídios para elaborar tarefas tantas vezes de duvidosa
utilidade, vide Mário Soares alarmado com os cortes que se
anunciavam.Sem
esquecer ainda que a anunciada privatização da RTP criou mais uma
série de inimigos na poderosa industria mediática devido à
escassez do mercado publicitário.
Longe
ainda deste quadro completar a fenomenologia do poder em Portugal,
percebe-se facilmente que as classes poderosas não se interessam
minimamente pelos destinos do país mas anseiam por um governo ao
estilo de José Sócrates, que continue a empurrar com a barriga uma
situação insustentável, enquanto concebe benesses por baixo da
mesa a estes mesmos poderosos. Quem paga, como sempre, é uma classe
média, que hoje já vive como se fosse uma classe pobre. Sobre estes
dedicarei o próximo post.
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