O
ÓDIO AO PRÓXIMO
Neste fim-de-semana um homem, sem mostrar a
cara, relatou num jornal televisivo a sua infeliz ocorrência na linha de
Cascais. No comboio onde seguia, 4 jovens circulavam alarvemente pelas
carruagens e, quando confrontados pelo revisor, disseram que não tinham
bilhete, reagindo este com uma prudente ausência repentina. O nosso homem
tornou-se então um alvo para os marginais e quando saiu na estação de S. Pedro
foi assaltado e atirado para a linha.
Jovens criminosos como estes vivem uma
situação especialmente benéfica para a suas necessidades de afirmação de poder
pessoal. Num acto de magia, alguns tomam-nos como os homens bons de Rousseau,
em que o mal que cometem não está neles mas em nós, que somos a sociedade
corruptora. Parafraseando Brecht, quando mais criminosos são mais merecem ser
inocentados. Isto materializa-se de muitas formas, na “glamourização” da
violência e do crime pela indústria de ficção, na cultura musical rap e afins,
na ocultação destas notícias pelos jornalistas. Há também toda uma série de
grupos de pressão que inocentam estes criminosos na base da chantagem, actuando
na base da defesa de causas que ninguém quer ser inimigo: anti-racismo,
anti-pobreza, anti-descriminação, etc. Junta-se a isto a falta de meios da
sociedade para combater as agressões, seja devido a leis e juízes facilitistas,
polícias apenas armados contra cidadãos cumpridores que, por sua vez, têm que
estar desarmados em todas as situações.
Toda esta situação foi montada propositadamente
não propriamente para promover o crime mas, através dele, gerar um caos social
e um enfraquecimento da alma humana. Nem os cretinos podem negar isto, apenas o
fazem os agentes da desordem, sejam revolucionários comprometidos ou idiotas
úteis. Contudo, estes agentes não se limitam a criar um clima de promoção do
crime e de desresponsabilização dos criminosos. Vários deles actuam
directamente sobre os criminosos, instruindo-os sobre como agir de forma
destrutiva e com risco mínimo. Naturalmente que em Portugal ninguém quer se
aventurar a estudar esta situação para não criar inimigos junto a grupos com
algum poder (tanto de extrema-esquerda como financiados por meta-capitalistas),
mas podemos inferir bastante coisas listando o conjunto de acções “inocentes”
que activistas fazem em zonas problemáticas, para além dos relatos em primeira
mão que podemos ter acesso. No Brasil está bastante bem documentado como os activistas
de esquerda ensinaram os criminosos comuns a organizar o seu crime, e algo do
género tem que se fazer por cá. Para ter uma ideia, ver:
A estratégia comunista para o continente sul-americano
apostou na conquista do poder através do crime, das drogas e da teologia da
libertação. Na américa do norte a aposta entrou pela via da imaginação, em
especial o cinema, e também através dos intelectuais, para além de alguns
sindicatos. Na Europa a aposta foi variada: sindicatos, financiamento de
partidos comunistas e sociais-democratas para operar a “estratégia das tesouras”,
espionagem, grupos terroristas, etc. Tudo isto está a dar os seus frutos agora
na máxima intensidade, enquanto tudo o que é cretino considera que o marxismo
foi enterrado definitivamente pela História, apenas porque o nome já não
precisa mais ser usado.
Contudo, o relato que motivou este post não
está terminado e ele ajuda a entender os efeitos sociais desta guerra cultural que
actua pela via da promoção do crime. Tinha dito anteriormente que o verdadeiro objectivo
não era a expansão do crime em si mas a criação de uma situação de caos propícia
à tomada do poder. Se o objectivo da tomada de poder pelos revolucionários foi
totalmente alcançado, este não se deu propriamente pela via do caos mas pela
criação de um novo modelo aberrante de ordem. Depois do nosso homem ter sido
assaltado e atirado para o meio da linha, ficou bastante mal tratado, com uma
grande deslocação do ombro, tendo ainda perdido os sentidos, o que lhe daria
uma morte certa com a chegada do próximo comboio. Tendo-se dado o ocorrido a
meio da tarde e estando várias pessoas na estação, mesmo que não enfrentassem
os criminosos, pelo menos seria de esperar que o ajudassem a sair da linha, mas
não, nem sequer o alertaram para a chegada do comboio. Quem o fez foi uma
senhora que assistia a cena da janela de um prédio ao lado, e o nosso homem lá
despertou e conseguiu sair pelos próprios meios, apesar de estar numa situação
física que os médicos consideraram depois incapacitante para tal, mas este tipo
de milagres são bem conhecidos por muitos relatos de situações de grande
perigo.
A
situação de não querer correr perigo para ajudar o próximo já revela algo de
preocupante. Como vivemos numa era de cobardes, já nem percebemos que a
cobardia não é uma coisa natural como sentimento permanente, mas é algo que
pode afectar qualquer pessoa em certas circunstâncias, tal como acontece com a
coragem extrema. Hoje em dia o ser humano parece oscilar apenas entre a
cobardia moderada e a cobardia paralisante, sendo presa fácil dos lobos bem
treinados. Contudo, a situação relatada revela algo que vai além disto. Todas
as pessoas que nada fizeram para salvar uma pessoa de uma morte iminente (houve
depois quem ajudasse) não estavam simplesmente paralisadas, elas realmente
quiseram, de alguma forma, que aquela vida terminasse.
O fenómeno é psicologicamente complexo e não se pode
confundir com uma simples tentativa de homicídio. A mente humana só consegue
aguentar um certo nível de absurdo, e quando este se impõe como norma social –
o que acontece com esta inversão de criminoso e vítima – o absurdo vai, então,
ser tomado como padrão de normalidade, obrigando a toda uma reorientação de
valores e de sentimentos concomitantes. A violência e o sacrifício de um
inocente constituem um ritual que convida os que o assistem a uma conversão
demoníaca, como se as potenciais vítimas passassem também a ter o poder dos
lobos predadores. Estava toda esta monstruosidade do cidadão comum oculta até que
uma circunstância especial a revelasse? De modo algum. Basta olhar em volta e
perceber como está cada vez mais presente o sentimento do ódio ao próximo,
apenas interrompido pela admiração em relação aqueles que Maquiavel nos ensinou
a admirar.
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