O
DESEJO DE APOCALIPSE
Aqueles que nasceram e foram criados no último
quartel do século XX, se tiverem alguma consciência histórica, terão uma
sensação ambígua em relação ao seu próprio destino. Depois de duas guerras
mundiais, depois do auge da guerra fria, depois do gulag e dos campos de concentração nazi, a História parecia
reservar-nos uma agradável existência pacata mas ao mesmo tempo negava-nos o
palco em que os mais terríveis eventos revelavam as possibilidades extremas do
ser humano. O Fim da História era proclamado como uma vitória, mas apenas
entusiasmava os mais tolos e hedonistas, já que condenava o ser humano à sua
própria imanência e colocava as sociedades ocidentais – havendo a crença que
todas as outras inevitavelmente seguiriam os seus passos – no rumo de um lento
ocaso motivado pela apatia. Neste contexto, não podemos estranhar o entusiasmo provocado
pelo terrorismo inaugurado pelos eventos de 11 de Setembro de 2001. Foi a
natural alegria dos deserdados da farsa da queda do comunismo, que agora se sentiam
vingados, assim como de muitos meninos mimados pela democracia liberal
procurando novos entusiasmos no radicalismo, e foi ainda o alento de alguns
patriotas, que finalmente viam um novo inimigo contra o qual podiam dar a vida
lutando contra. Contudo, a luta contra e a favor do terrorismo em democracias mediáticas
rapidamente se torna enfadonha e as pessoas deixaram de acreditar que o mundo tinha
mudado com o 11 de Setembro, pelo que voltou-se à apatia.
Obama apareceu neste contexto de tremenda
necessidade de transcendência nem que fosse pelas mais retorcidas vias. Ao
salvador tudo se desculpa e todo o bem se lhe atribui. Contudo, algo de
estranho se passa: se os nossos antepassados pudessem ver Obama apenas
reconheceriam ali um canastrão de quinta categoria com uma grande aura de
vigarista, a quem nunca comprariam um automóvel novo ou em segunda mão. Obama é
a personagem mais obscura na História da humanidade, com um passado do qual
nada se sabe a não ser que não é aquilo que ele diz ser, mas concedo que os
meios de comunicação de massa consigam hoje, funcionando numa rede estreita,
criar uma personagem totalmente fictícia. O meu espanto não está naquilo que
foi possível ocultar mas naquilo que Obama é diante de toda a gente e ninguém
parece ver. Perdeu a humanidade os seus instintos mais básicos e tornou-se
incapaz de reconhecer os perigos mais óbvios?
Durante muito tempo achei que era assim, já
que vivemos em tempos cada vez mais alienados. Contudo, percebi que a verdade
era bem mais terrível e que o problema não era a perda total dos instintos
naturais no ser humano. Ora, se Obama fosse realmente um vendedor de
automóveis, ele seria um dos piores no mundo, ninguém confiaria nele e nem se
chegariam próximo da personagem, não fosse a carteira mudar de bolsos num acto
de magia. É precisamente por Obama ser isto que ele se torna o homem ideal para
dirigir o país mais poderoso do mundo, porque ele tem a capacidade para
destruí-lo. Claro que Obama chegou a presidente apoiado pelos inimigos dos EUA,
internos e externos, mas também apoiado por uma vontade popular saturada de
apatia, que aposta no cavaleiro negro (escrevi isto e logo pensei que podia ser
interpretado de forma racista, mas seria cobardia voltar atrás e optar por uma alternativa
politicamente correcta) porque ele revela um tremendo poder oculto. Os
americanos, e o resto do mundo ocidental, por extensão, estão como Creso que
decidiu atacar os persas porque o oráculo lhe garantiu que essa iniciativa levaria
à destruição de um grande império, sem ter percebido que se referia ao seu. Mais
propriamente, estamos com a mesma postura que Hitler, que apostava tanto no
reich de mil anos como na destruição total.
Sei que esta descrição pode parecer fantasiosa
a um nível extremo a um leitor desprevenido, que ainda acredita que a realidade
é o conjunto de invencionices dos jornalistas e comentaristas (nem perco tempo
com aqueles que têm medo da realidade, já que só lhes resta procurarem as saias
da mãe). Mas temos exemplos internos deste mesmo mecanismo. A dada altura da
governação de José Sócrates, acumulavam-se as suspeitas sobre as suas
qualificações e esquemas de corrupção onde teria entrado. Um inquérito de
opinião revelou uma estranha postura dos portugueses, daquilo que se podia
inferir: havia fortes suspeitas que ele fosse mesmo corrupto mas isso em nada o
impedia de ser primeiro-ministro, isto numa altura em que se falavam em grandes
obras públicas, que sabemos que iriam enriquecer uns poucos bolsos. Não se
trata aqui daquela complacência que os italianos tinham há umas décadas pelos
seus políticos, que podiam ser corruptos mas os italianos podiam continuar enriquecendo
e a normalidade continuava. Portugal estava, pelo contrário, numa situação de
catástrofe iminente e José Sócrates apenas podia nos levar para o abismo, mas
fê-lo com verve e os portugueses seguiram-no, como se o apocalipse fosse o
castigo por terem deixado se iludir.
No auge do poder socrático, os meios de Estado
foram usados para perseguir indivíduos isolados que se atreveram a contestar o
primeiro-ministro onde doía, e este não se coibia de enviar mensagens públicas
onde deixava entender claramente que ia usar todos os meios para esmagar quem
se lhe colocasse no caminho. Um método do género usa ainda o KGB, seja qual for
o nome que tem agora, quando assassina ex-agentes usando plutónio, material que
não se compra na farmácia da esquina, dando assim uma mensagem de aviso clara,
sabendo que os sonsos farão de conta que não viram nada. Então, quando o abuso
de poder socrático já não dava para desmentir, surgiram alguns génios a
explicar a lógica da situação: a democracia é mesmo assim, um partido é eleito
e pode fazer tudo o que quiser, e se depois as pessoas não gostarem só têm que
votar noutro partido nas próximas eleições. Não vi esta pretensão combatida de
forma adequada em lado algum, e veremos que ela não é uma simples atoarda mas
corresponde a uma intenção prática. Nem ditaduras e regimes totalitários defendem
algo assim, apesar de o praticarem, mas fazem-no à luz de bodes expiatórios.
Esta pretensão a um poder total por parte dos
titulares dos governos democráticos, ao invés de ser um dislate de alguns
cretinos socráticos, é algo que nos ajuda a compreender a actuação do governo
Obama em algumas áreas, que pode ser ocultada pelos jornais mas é acessível a
quem consulte fontes primárias. Por um lado, Obama aumentou imenso a dívida
pública, o que apressa a substituição do dólar como moeda de troca
internacional, o que provocará o colapso da economia americana. Internamente,
prepara-se uma guerra civil: criação de campos de concentração, desarmamento
dos indivíduos e compra maciça pelo governo de munições proibidas pela Convenção
de Genebra, logo, para serem usadas contra o próprio povo. O slogan de campanha
de Obama, “Yes, we can” mostra-se, então, como uma profecia demoníaca, que
oculta o seu sentido até ser tarde demais. Enquanto milhões de idiotas foram
iludidos, dentro e fora dos EUA, para entrarem numa espécie de corrente
positiva, onde podiam somar todas as ilusões, o slogan apenas dizia que “eles”
poderiam fazer tudo (não há na frase um genitivo restritivo), incluindo eleger
um presidente inelegível e criar uma ditadura à frente de todos sem ninguém
perceber.
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