16.
Promoção de uma política de defesa activa e criação de uma zona de influência
lusófona
– A desmilitarização da sociedade, que ocorreu nas últimas décadas, foi saudada
por quase todos de forma mais ou menos aberta. Parecia que o país libertava-se
de uma era primitiva, marcada por uma lógica primária do tipo “nós e os outros”
e abraçava a paz kantiana e o desígnio imparável do progresso e de uma
globalização sem fronteiras. A tropa servia para humilhar o homem, dizia-se,
pelo que urgia acabar com o serviço militar obrigatório. Também se dizia que o
número de militares que tínhamos não correspondia às nossas necessidades, pois
já não havia guerra colonial, nem colónias nem ameaças de qualquer género no
mundo que se vivia, sobretudo depois do fim da guerra fria. A actividade
militar era considerada improdutiva a todos os níveis, além de ser vista como
uma coisa arcaica, como a agricultura ou as pescas, e agora o que queríamos era
uma geração que fornecesse serviços e génios nas mais diversas áreas. Só os
comunistas acharam que o serviço militar obrigatório devia se manter, na
expectativa de que isso lhes desse um novo 25 de Abril…
Em primeiro lugar, só mesmo o ocidente
decadente acredita na paz kantiana, enquanto o resto do mundo é regido pela
lógica da guerra, com a variante de que esta é hoje preparada de forna cínica por
alguns dos principais contendores. O mundo islâmico prepara a guerra tanto na
frente intelectual, onde as tariqas estendem a sua rede de influências nos mais
altos círculos do poder ocidental, assim como no aparente anarquismo do
terrorismo, sem esquecer ainda a emigração planeada, que conjuga perfeitamente
pelo pouco apetite reprodutor dos ocidentais. O próprio terrorismo cometido por
islâmicos é na verdade controlando em grande parte pelo bloco russo-chinês, que
usa de todos os expedientes para enfraquecer o ocidente, de onde não é difícil
concluir que se trata de uma actuação tendo em vista uma posterior ofensiva de
conquista global. O projecto eurasiano usa uma multiplicidade de expedientes
que levaria uma vida a estudar: espionagem industrial/militar, guerra
cibernética, guerra económica e financeira disfarçada de “globalização”,
financiamento de movimentos ocidentais para o enfraquecimento interno, infiltração
de agentes inimigos dentro das mais altas funções nos governos ocidentais, e
assim por diante. Esta pequena amostra serve para mostrar que o mundo é muito
mais hostil do que parece à primeira vista, realçando também que a guerra não
pode ser travada apenas a nível militar mas deve enveredar pelo plano cultural,
mas deixarei este último aspecto para outras ocasiões, já que se trata de um
dos temas principais deste blog.
A promoção de uma política militar activa,
incluindo o serviço militar obrigatório, tem vantagens a vários níveis. Quando
se diz que a tropa humilha o homem, quer dizer-se que a tropa pega num bando de
meninos mimados e lhes dá alguma dignidade. Torna-os mais fortes fisicamente e
psicologicamente, ensina-os a trabalhar em grupo, dá-lhes espírito de
camaradagem e maior autonomia, porque o soldado deve conseguir fazer sozinho
uma série de coisas de utilidade prática, o que inclui também alguns hábitos de
raciocínio com dados da realidade. Daqui se vê a importância de acabar com o
serviço militar obrigatório para criar uma cultura hedonista de servos mimados.
Claro que não basta restabelecer um serviço militar simbólico, tem que ser uma
preparação longa e que possa trazer outras vantagens ao país, quer em termos de
segurança quer em termos redução de custos nas obras públicas, no cuidado do
património, preservação de matas e florestas e assim por diante. Outra vertente
é o investimento na investigação militar, que é importante não apenas em termos
puros de eficiência de combate/defesa mas também um catalisador de uma série de
avanços técnicos que se espalham nas mais variadas áreas. Durante muitos anos
Portugal andou à espera que um milagre revelasse algum paradigma tecnológico
que nos colocasse na vanguarda mundial, achando que isso se fazia despejando
dinheiro sobre alguns projectos aventureiros de especialistas em sorver
dinheiros públicos, ou dando benesses a empresas estrangeiras que se queriam
aproveitar da mão-de-obra barata portuguesa. Bastaria olhar para os exemplos da
História para perceber que isso se obteria mais facilmente com o investimento na
área militar.
Este tema liga também ao da promoção de uma
zona de influência lusófona. Existe uma necessidade estrita de ter alianças,
dado que as ameaças hoje são globais e o investimento militar avultado. Que
essas alianças sejam dentro do mundo lusófono levará muitos a duvidar ou a
lançar ares de desprezo, como se esta fosse uma ideia de quem está agarrado a
sonhos inviáveis de restaurar o antigo império português. Em primeiro lugar, as
alianças entre países lusófonos são naturais não apenas por uma questão da
língua mas por uma questão de um “sentir” comum em relação a muitas coisas,
apesar de uma campanha de muitas décadas, de parte a parte, para promover uma
separação e mesmo uma repulsa, sobretudo em relação a Portugal. A globalização
que os portugueses criaram tinha um sentido muito diferente da actual, não era
uma mixórdia de culturas com vista à dissolução de todas numa única, e nem era
uma concentração de poder num centro único, algo que nem sequer seria
concebível na altura. De certa forma, a globalização ao estilo português é o
melhor antídoto à globalização moderna, centralizadora e uniformizante.
Não é por acaso que a globalização moderna,
apesar da retórica de um comércio mundial, esteja focada na criação de blocos
regionais: Europa, América do Sul e possível extensão de todas as américas,
Ásia. Entre países vizinhos é natural uma tensão entre a cooperação e o
conflito latente. Quando esta tensão desaparece é sinal que os países perderam
a sua energia vital e já estão submetidos a um poder superior a ambos. Dá-se
então a promoção das relações culturais entre vizinhos e o corte das relações
que não tenham proximidade geográfica, ainda que tenham substância histórica.
Ora, um país que corta com o passado apenas pode apostar cegamente num futuro
hipotético e imediatamente fica nas mãos de quem dirige essa ilusão de futuro.
Mesmo se estivermos fartos desta globalização
e da União Europeia, é natural que nos sintamos pouco crentes num “restauro do
império português”. Na verdade, essa descrença é um sintoma do problema.
Vivemos numa época em que qualquer adolescente acha que pode mudar o mundo, e
toda a sociedade aplaude, mas onde ninguém acredita que a reunião das forças de
um país consiga fazer algo que preste, ainda que seja algo que o país já tenha
feito anteriormente com uma grande exiguidade de meios. É curioso notar que a
China, que decididamente tem pretensões imperialistas, mostra um curioso
interesse por ter uma área de influência que é semelhante à do antigo império
português. Deixo para depois a questão do restabelecimento de um espírito
verdadeiramente português que se encontra implícito nesta medida.
17.
Pulverização da segurança social, distribuindo as suas características
positivas por municípios, misericórdias e associações ligadas à Igreja.
Proibição de solidariedade com fundos estatais a instituições sem respalde
histórico, porque todas as instituições modernas têm uma mentalidade corrompida – Deixo intacto o
conteúdo original da proposta, porque penso que já fala bastante por si e se
tornará óbvio à luz das explicações que aqui tenho dado.
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