sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sinais dos tempos

Os jovens que andam de calças descaídas talvez não saibam que este “hábito” começou por ser uma forma de os presidiários norte-americanos sinalizarem a sua disposição para serem sodomizados, naturalmente com aquela delicadeza que caracteriza os homens encarcerados. Mas mesmo sem conhecer esta origem pré-histórica (para os jovens, tudo aquilo que aconteceu há mais de seis meses é colocado numa origem mítica dos tempos, do qual pouco se sabe e pouco se deve saber, devido ao risco de ostracização), qualquer um percebe intuitivamente que esta “moda” tem algo de submisso, não é apenas um pormenor estético. O sujeito de calças descaídas tem de andar de forma específica, o que limita os seus movimentos e a capacidade defensiva, além de não poder ter a coluna direita nem a cabeça verdadeiramente erguida. Fisicamente e psicologicamente, ele coloca-se numa posição de inferioridade, como o lobo que mete o rabo entre as pernas para suscitar a condescendência do macho alfa.
Podemos questionar o que fez a escola e a indústria da ilusão para levar os jovens naturalmente a uma postura derrotista e humilhante. Contudo, antes disso, penso que deviam ser procuradas causas mais “próximas”. Os nossos jovens não teriam aderido tão facilmente à postura das calças descaída se não vissem o exemplo dos seus pais constantemente com as calças arreadas, falando em termos metafóricos. Começa logo por, na maior parte dos lares, serem as mulheres a “vestir as calças”, enquanto os homens se tornam cada vez mais presenças amorfas e indefinidas. A luta moderna contra o “sexismo” acabou por criar diferenças de género de uma dimensão nunca vista, ainda para mais sem qualquer relação com as inclinações naturais das pessoas. Já não há uma descoberta do que é ser mulher e ser homem, apenas a aquisição de um papel social ditado pelo politicamente correcto, que não é apenas estúpido mas também infinitamente variável, colocando as pessoas sempre numa instabilidade que as deixa medrosas e, assim, mais dependentes do politicamente correcto.

Por outro lado, os jovens também se acostumaram a ver os pais “de quatro” em muitas outras situações. Falam mal do governo mas têm uma subserviência canina ante tudo o que o Estado pede. Os jovens habituaram-se a ver os pais desde sempre a baixar as calças para os patrões abusadores, para os vizinhos desrespeitosos, para os condutores desvairados, para os consumidores trogloditas nos supermercados e assim por diante. A educação caseira passa a mensagem de que o fundamental é a adaptação às situações, e que essa adaptação se faz sempre cedendo, mesmo se tivermos de abdicar de coisas importantes. Paradoxalmente, o jovem chega à adolescência com desejo de rebeldia mas a sua forma natural de pensar e agir é o conformismo mais rasteiro. Podemos perguntar que tipo de adulto sairá daqui, e a resta é simples: ele não chegará a adulto.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Political ideology choice for dummies

Caro mancebo político,


Se ainda não escolheste uma ideologia política para o resto da vida – a idade ideal para isso acontecer é aos 17 anos –, dá-te por felizardo porque encontrarás aqui um pequeno manual que irá dar-te todas as indicações nesse sentido.


1. Quem és tu?

Como todas as pessoas de tenra idade, inevitavelmente és um idiota. Mas isto não é grave desde que os outros não percebam. Isto pode não te parecer uma grande instrução, mas o que quero dizer é que não deves tentar dar um passo maior que a perna e, sobretudo, nunca teves tentar descobrir algo por ti mas sempre seguir algo já pronto.



2. Como funciona o mundo?

A realidade social e política é completamente arbitrária, não há soluções melhores ou piores, tudo é igualmente defensável ou condenável. Talvez isto não seja bem assim, mas seria necessário muito tempo e seriedade para descobrires a verdade, pelo que não vale a pena. Além disso, irás perceber que a ignorância em relação aos aspectos fundamentais da vida e da sociedade é muito importante para tomar decisões rápidas e sem problemas de consciência.



3. Que ideologia devo escolher?

Deves escolher a ideologia que responda de forma mais rápida às tuas frustrações e que te permita sempre culpar algum inimigo. Sugiro algum tipo de socialismo: (1) marxismo, caso sejas um jovem de voz grossa e não te importes de colar cartazes e trabalhar na Festa do Avante; (2) socialismo fabiano, caso tenhas uma voz efeminada e uma pele delicada; (3) marxismo cultural, caso queiras comer gajas fáceis e fazer uns “riscos” de graça.



4. Como defender a tua ideologia?

Deves começar por justificar a tua escolha ideológica para ti mesmo: “a minha ideologia está certa porque eu sinto que sim”. Sempre que comeces a ter dúvidas, deves parar, respirar fundo e pensar em alguma figura ou classe social em relação à qual tenhas muito ódio, e assim as dúvidas irão se desvanecer. Os teus argumentos devem ser escolhidos de forma a sentires que és melhor do que as pessoas comuns e que entendes coisas que elas não podem entender. Tudo isto pode ser facilmente absorvido em grupo, além de que uma ideologia é tanto melhor defendida quanto maior o número de pessoas que conseguem gritar em conjunto a seu favor. Concentra-te no som e nas vibrações que as palavras de ordem te provocam. Quando falares para leigos, nunca te preocupes em dar grandes justificações, porque se trata de um público que ainda não viu a luz, e está ali apenas para observar a tua demonstração de força e superioridade.



5. Como tratar os adversários ideológicos?

O mais importante é saber que qualquer adversário ideológico é infinitamente perverso e está imediatamente excluído da espécie humana. Nunca deves cair no erro de entrar numa troca de argumentos. Logo para começar, deves acusar o teu adversário de alguma coisa para o colocar na defensiva. Deves acreditar firmemente que os teus adversários são realmente culpados de todas as tuas acusações (racismo, imperialismo, pedofilia, traição, etc.), e se isso não for aparente, ainda acrescentas que eles são dissimulados. Caso tenham eles a audácia de te acusar, deves vitimizar-te e dizer que eles não têm uma postura digna.



6. Como lidar com crises de meia-idade?

Se chegares aos 22 anos e tiveres uma crise de meia-idade, ou porque desgostaste da tua ideologia ou porque foste expulso do grupo, deve então fazer uma troca. Podes mudar do marximo para o fabianismo ou algo assim. Outra escolha altamente recomendável é o liberalismo, caso tenhas tendência para racionalizações e um igual ódio à realidade.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A sabedoria dos tolos letrados

Os conselhos de sabedoria que se encontram nas revistas cor-de-rosa e nos programas de televisão familiares são uma boa fonte para perceber para onde está apontando, em cada momento, a engenharia social. Claro que os “sábios” não precisam de estar conscientes da globalidade do processo, basta-lhes captar o “espírito do tempo”, depois fecham-se nas suas conchas meditativas e finalmente parem algumas pérolas de sabedoria. Chamou-me a atenção um artigo com 20 conselhos de sabedoria dirigido a um público pré-universitário, dado o alvo ser tão específico e, de certa forma, relevante. Os conselhos podem parecer banais a uns, preciosos a outros, mas tentarei mostrar que são formas de imbecilização subtis.


Irei citando o artigo e fazendo alguns comentários. O trabalho vai ser longo mas, de certa forma, divertido.

 


1.Mantenha o contacto com os amigos verdadeiros
É fácil perder o pé nos próximos tempos, ofuscado com a quantidade de pessoas novas que vão entrar na sua vida e a animação constante que se avizinha. Mas não se esqueça de continuar a falar com os seus melhores amigos de sempre, porque esses você sabe que estarão sempre ao seu lado, já o mesmo não pode dizer (para já) das pessoas que vai conhecer daqui em diante.

 

 

Está aqui implícita uma concepção de amizade puramente animal, de rebanho, de puro conforto. Claro que uma ovelha não deve se sentir confortável no seio de uma alcateia de lobos, mas se o público alvo são futuros universitários, eles deveriam ter como objectivo um alargamento do horizonte de consciência, pelo que a amizade verdadeira só pode ser encontrada entre aqueles que partilham a mesma comunidade de valores e de repúdios. E aqui as notícias não são boas para aqueles que buscam a verdade. Por um lado, pode ser benéfico manter contacto com os anteriores amigos, mas muitos deles não vão conseguir acompanhar os novos interesses, pelo que a verdadeira intimidade está vedada. Por outro lado, os novos colegas universitários, mesmo que tenham uma cultura mais vasta, em geral mostram uma consistência existencial muito reduzida. É fácil encontrar companheiros de aventuras imbecis, mas para quem almeja algo mais profundo o melhor é se preparar para uma longa e penosa busca de verdadeiras amizades.


 

2.Apesar de ser inteligente, o seu cérebro ainda está em formação. Escute os seus pais, mais do que eventualmente gostaria 
Só aos 23 anos o seu cérebro consegue estabelecer todas as ligações que o tornam realmente 'adulto'. Até lá (e também depois disso...) continue a escutar os conselhos e os alertas dos seus pais. Eles são (na maioria dos casos) mais fiáveis do que as suas ideias.
 
Aparentemente, temos aqui uma proposta sensata, que tenta refrear a arrogância juvenil. Contudo, nada imbeciliza mais do que a incorporação de factos “cientifóides”, que tentam esmagar o entendimento com o peso do rigor científico. Alguém que tenha superado os 23 anos sentiu, atingida essa idade, um “clique”, que, num repente, ficou mais adulto? E os inúmeros reis que começaram a reinar aos 16 anos e tiveram desempenhos exemplares foram informados disto? Bem mais relevante do que o desenvolvimento neuronal é a própria complexidade do mundo moderno, repleto de sinais contraditórios. Um jovem universitário não pode ter um grande nível de maturidade simplesmente porque não teve tempo de: (1) conhecer o contexto onde se vai inserir; (2) saber o que se espera dele; (3) saber como evitar falsos caminhos e assim por diante. Mas tudo isto são elementos externos, que podem facilitar ou dificultar a maturidade, mas não levam em conta um elemento interno fundamental, que é a própria vontade. O indivíduo só se torna maduro se quiser, e hoje muitos não querem amadurecer e depois acabam mesmo por não o conseguir.

A ideia de ouvir os pais é muito menos razoável do que parece. Os pais têm que ser respeitados mas o adolescente necessita de seguir o seu próprio caminho, cometer livremente os seus erros, e se continuar “ouvindo os pais” isso vai metê-lo numa busca de afeição que o poderá infantilizar para o resto da vida. Só bastante mais tarde, depois de conhecido o mundo e obtida uma grande dose de auto-confiança, volta a ser altura de ouvir os pais. Isto não significa que o jovem deva entrar em conflito com os pais, mas apenas que deve procurar o próprio espaço, porque o radicalismo juvenil é quase sempre a submissão canina a um novo grupo de referência, o que não constitui uma verdadeira abertura ao mundo.



3.Aproveite o momento
Mais do que em qualquer outra fase da sua vida, esta é a altura em que está mais concentrado no seu futuro. Mas vá com calma. Isso é bom para se agarrar aos estudos e dar o seu máximo, mas não deixe de viver por causa disso. Saber gozar cada momento é uma capacidade que vai perdendo à medida que os anos passam. Aproveite-a agora!

Quanta estupidez se pode verter numas poucas linhas! Realmente, são bem poucos os jovens ambiciosos que se concentram no futuro, e para o fazerem atém necessitam de algum treino específico. A maior parte dos jovens esforçados, na verdade, ou está em busca de aprovação dos pais ou professores, ou então tenta provar a sua força. Por outro lado, aproveitar o momento e concentrar-se no futuro não são escolhas antagónicas mas são elementos que têm necessariamente de conviver tensionalmente. O nosso sábio conselheiro pressupõe que se pode passar de um a outro, ora para aliviar a tensão, ora para a provocar, mas o que acontece é uma mescla: o momento torna-se estéril se não tiver um sentido a ser lembrado no futuro, e o futuro é alienante se não poder ter já algo em que se apoiar, ou será um sonho sem suporte real.

Por último, a ideia de que se perde a capacidade de gozar cada momento é simplesmente falsa e demonstra a total falta de capacidade do autor para perceber o ser humano. Na infância existe uma capacidade de apreender  “o momento” que é inigualável, cada lugar é como se fosse um planeta novo, onde cada detalhe parece espantoso, cada ocasião pode ficar marcada para sempre. Na adolescência e no início da idade adulta isto perde-se, porque o indivíduo já não está interessado em ser um mero agente passivo mas quer agora se integrar de forma activa no mundo, deixar a sua marca, provar o seu poder. Isto quer dizer que ele pode ter experiências que são objectivamente banais mas que são vividas subjectivamente de forma muito intensa, porque representam um conflito entre o indivíduo e o mundo, uma superação ou um fracasso colossal. Passar por isto é importante mas é um erro ver aqui um “gozar o momento”, porque em geral a pessoa está tão focada em si mesma que está bastante alheada do cenário e das eventuais pessoas envolvidas. A maturidade consiste precisamente em abandonar o excessivo centramento em si mesmo e abrir-se para as experiências na sua integralidade, nem demasiado passivo como as crianças, nem demasiado activo como os adolescentes. Só aí começa a desenvolver-se uma verdadeira cultura de vida, que poderá ir melhorando até aos últimos dias de lucidez. Contudo, esta terceira fase é incompreensível para quem ficou preso à fase adolescente da vida e ainda sente que tem algo a provar a si mesmo. 



4.Vai sentir saudades desse seu corpo mais tarde
Chegará o dia em que terá saudades mesmo dessas partes do seu corpo que hoje odeia. E por mais inacreditável que lhe pareça, até vai achar que, afinal, eram quase perfeitas. Cuide bem do seu corpo. Alimente-se de forma saudável e faça exercício físico.

 

Agora começa a ser evidente que o nosso sábio realmente não conseguiu superar a adolescência e tenta exorcizar os seus fantasmas assumindo um postura superior e “conselheira”. Se o adolescente não se sente confortável com o seu corpo, tendo ou não razões objectivas para isso, de nada lhe serve saber que, talvez no futuro, tudo aquilo lhe parecerá irrelevante. E a própria preocupação com o cuidado do corpo até lhe pode aumentar o desconforto, porque ele procura uma solução material para um problema psicológico. A própria alimentação “saudável” e a cultura do exercício físico já vêm cheios de mitos, podendo conduzir a resultados contrários aos desejados, e ainda dão maior importância ao corpo. Normalmente, o sujeito não odeia partes do seu corpo mas fica desolado por achar que essas partes não são do agrado das pessoas com quem quer conviver sexualmente (pode também haver um desagrado dentro do grupos de amigos mas que não toma proporções “metafísicas”). A solução para isto passa pela conquista amorosa ou, em último caso, é bem mais saudável recorrer à prostituição do que comer tofu e andar de calças de licra num ginásio.


 


5.Se alguém for realmente indelicado consigo, o problema está nele, não em si
Palavras duras e injustas são geralmente usadas por pessoas inseguras contra aqueles que consideram mais fortes ou melhores do que elas, como a única forma de os tentar abalar. Não se deixe abater.

Mais um conselho para quem apenas se quer manter à tona de água. Podemos ficar abatidos por alguém ter sido indelicado connosco não por nós mas por percebermos a miséria existencial daquela pessoa. Este tipo de possibilidade parece nunca passar pelo espírito desta besta-quadrada (penso que nesta altura já é legítimo trata-lo assim). É um pouco estranho dar este tipo de conselhos a alguém com 17 ou 18 anos, que já deveria ter experiência em lidar com estas situações. O conselho justificar-se-ia se fosse para alertar para outro tipo de situações em que podem ser mal-educados para nós e que são menos conhecidos mas importantes na vida adulta.

Por exemplo, numa situação laboral, alguém pode nos falar de forma ríspida não porque nos quer abalar ou porque quer medir forças connosco mas apenas porque quer que façamos uma determinada tarefa atempadamente, e não está em causa nenhum ataque pessoal. Por outro lado, a indelicadeza e o insulto não são apenas armas dos inferiores cheios de inveja contra os superiores. São também meios de condicionamento ideológico, usados com precisão quase científica, e seria interessante alertar os jovens para isto numa altura em que eles se começam a interessar por questões políticas. Nestas situações, o não se deixar abater é irrelevante, e pode mesmo ser necessário responder com muito mais força de insulto, humilhar se for preciso. Obviamente que este tipo de considerações está infinitamente acima daquilo que pode conceber o conselheiro mor da juventude.


6.Aprenda a pedir desculpa
Admita quando errou. Diga 'lamento', seja humilde e não arranje mais desculpas para se justificar.


Não sei quantas aulas são necessárias para aprender a dizer “lamento”. Parece que o autor se lembrou de determinada situação e depois achou que aquilo se aplica em todos os casos. Há casos em que cometemos faltas e a desculpa deve ser lacónica, porque há actos que simplesmente não têm qualquer justificação aceitável. Mas em muitos outros casos as justificações são necessárias, às vezes até para confortar o lesado. A justificação não é apenas uma fuga do rabo à seringa ou um tentar virar o bico ao prego. Quem disse que todas as situações na vida são tão simples para podermos dizer: «fui eu, lamento»? Na realidade, em muitas situações complexas, se assumimos o erro geral, isso é tão hiperbólico que não estamos admitindo nada, e ainda acabamos por nos vitimizarmos, como se disséssemos que assumimos as nossas culpas e as dos outros. Aprender a pedir desculpa é bastante mais complexo do que dizer “lamento”, que acaba por ser apenas um truque para escapar a uma verdadeira responsabilização ou, então, podemos andar a assumir responsabilidades por actos de outros.


 

7.A formação é muito importante
Acredite que se vai orgulhar da sua licenciatura para o resto da vida... e se irá arrepender se não a completar. Não interessa se vai ser médico, engenheiro ou professor, ou seguir uma profissão que nada tem a ver com o seu curso, mas fique com a certeza que será sempre um profissional melhor e uma pessoa mais esclarecida.

E eis que chega a apologia da universidade. Mas afinal o que dá o curso superior? Há sempre a vaga promessa de que se terá uma grande carreira pela frente, com muito prestígio e dinheiro, mas esqueçam isto. O curso superior permite apenas, em média, ter um trabalho melhor pago mas que não é muito mais estimulante do que aquele que se obtém numa profissão sem diploma. Pensam que vão ser advogados nas barras dos tribunais “encostando” grandes criminosos contra a parede? Vão antes tratar de casos de multas de estacionamento. Ou pensam que serão médicos a lidar com casos estranhos como aqueles que aparecem no House? Antes irão ver hemorroidas e unhas encravadas. Ou pensam que serão engenheiros a trabalhar no próximo projecto para a Nasa? Antes irão fazer umas consultas a bases de dados sem saber para que serve o resultado. E se forem professores não estarão a educar novas gerações mas a imbecilizá-las, aplicando os programas desenhados para isso. O curso superior é importante para fazer uma função especializada numa empresa que é de um milionário que não foi à universidade e se concentrou em coisas mais importantes.

É também completamente falso que um curso superior deixa a pessoa mais esclarecida. Naturalmente que na área em que a pessoa se especializou, ela ficará mais esclarecida, apesar de por vezes nem isso, já que nas áreas em maior declínio e sem aplicação material o diplomado pode ter emburrecido tanto que esqueceu aquelas coisas que antes sabia intuitivamente. E certamente que não serão mais esclarecidos no geral, o que podem é ter adquirido uma linguagem pomposa que os leva a falar de tudo sem dizer nada e assim dão um ar de saberem alguma coisa. A universidade forneceu-lhes vícios de pensamento e uma forma de raciocínio sobre partes muito fragmentadas da realidade, são incapazes de ver o todo mas conseguem engenhosas justificações de barbaridades. Por isso são em geral os universitários os apoiantes do terrorismo e do genocídio.


8.Deve dizer NÃO sempre que achar necessário 
A vida é sua e ninguém o pode obrigar a fazer aquilo que não quer. Mesmo que agora as consequências lhe pareçam pesadas, vai sentir-se muito pior se aceder a fazer algo que considera errado ou inapropriado, apenas porque os outros querem.

O problema não é dizer “sim” ou “não”, mas sim ter a coragem de se afastar de pessoas que não prestam. Quando alguém está dependente de um grupo o dilema moral já está reduzido ao mínimo, porque apenas funciona a lógica de matilha, e apenas há uma expectativa de ver qual é a próxima orientação, sem fazer quaisquer considerações de valores. Além disso, se a pessoa pertence a um grupo de canalhas, na verdade ela também já é daquelas que tentam obrigar os outros, nem que seja pela mera presença, a fazer o que não querem. É curioso que alguém que quer ensinar os outros a pedir desculpa pelos erros (ponto 6) nem se lembre de chamar a atenção para isto. Claramente trata-se de uma mente atomística e “pragmática”.


9.Tudo o que 'postar' nas redes sociais fica para sempre
Uma fotografia que retrata um momento embaraçoso, um vídeo atrevido ou um comentário irreflectido podem impedi-lo de chegar tão longe como gostaria. Cada vez mais os recrutadores usam as redes sociais para conhecer a verdadeira personalidade dos candidatos.

Não era mais simples restringir as publicações apenas a um grupo limitado de pessoas? E que merda é essa de ficar com medo do policiamento que eventuais empregadores façam no facebook ou outras redes? Hoje em dia, quem não tem facebook é suspeito de esconder algo, e os outros devem ficar sempre com receio de ser excessivos. O conselho devia ser o seguinte: rejeitar quaisquer empregadores que façam patrulha na internet e denunciá-los em público.


10.Siga a sua voz interior 
Não se deixe manipular pelos outros em relação ao que pretende fazer da sua vida. Se o seu sonho é ser advogado não dê ouvidos ao seu melhor amigo que quer á força levá-lo com ele para Publicidade. Até pode ser uma carreira mais excitante, mas se não é isso que o entusiasma, deixe-o ir.

A nossa voz interior pode não ser tão nossa como parece a este tolo. Os nossos sonhos e expectativas são quase todos derivados da pressão contínua que vem da sociedade sem percebermos. O importante não é seguir a nossa voz interior mas obter uma voz própria, que possa escutar as solicitações dos amigos e da sociedade mas ainda assim ter uma palavra final decisiva. Seguir os sonhos é apenas uma tolice daqueles asnos que se habituaram a seguir a cenoura que lhes colocaram frente aos olhos.

 

11.A meditação ajuda-o a alcançar os objectivos
Não deixe que os dias passem uns atrás dos outros, sem parar um pouco para reflectir se está a caminhar na direção certa. O curso pode não ser afinal aquilo que imaginara, e não vale a pena esperar pelo final para depois voltar a trás ou transformar-se numa pessoa infeliz. Quanto mais cedo se aperceber e tomar medidas, mais rapidamente muda para o rumo certo. Mas este hábito também lhe será muito útil em outras questões do dia-a-dia - na escolha dos amigos, no tipo de vida que leva, no investimento que está a fazer no estudo, entre outras coisas.

Realmente, se há alguém capacitado para falar de reflexão é este nosso sábio esquizofrénico, que não consegue sequer ter uma visão mínima de conjunto dos seus vários conselhos (isso é a actividade meditativa propriamente dita). O que ele também parece não perceber é que grande parte da actividade universitária dos alunos – precisamente a que causa maior frustração – é bastante semelhante de curso para curso, e deriva das próprias exigências disciplinares e burocráticas, e ainda que nada disto tem relação com aquilo que se vai encontrar no mercado de trabalho. Certamente que a reflexão é importante, mas estamos a iludir os incautos se acharmos que ela se pode fazer pelos mínimos indícios. A reflexão, para ser efectiva no mundo real, exige antes uma longa e demorada colecta de dados, exige também um conhecimento das situações humanas. Os jovens inteligentes que se habituam a pensar e decidir rápido apenas irão se viciar em racionalizações e iludir-se a si mesmos.


12.Viaje
Esta é a fase ideal para conhecer outras formas de estar na vida. Nem sempre é preciso gastar muito, se souber procurar boas oportunidades. Pode viajar de comboio, autocarro ou em voos low cost e tentar ficar em casa de amigos, ou de amigos de amigos, para poupar na estadia. E porque não aproveitar o convite do seu colega polaco para ir visitar o país dele? Vai precisar de mundo para ser um bom profissional e isso não se consegue na faculdade.

A juventude não é, seguramente, a melhor idade para viajar (mas a infância poderá ser), a não ser que o objectivo seja provar a si mesmo que se é capaz de partir para lugares desconhecidos e desenrascar-se em situações imprevistas. Os jovens são demasiado auto-centrados e não conseguem se esquecer um pouco de si mesmos para conhecer outras formas de vida, a não ser nos seus aspectos mais caricaturais. Jovem, ganha vergonha na cara e não gastes mais dinheiro dos pais em viagens onde irás fazer figura de idiota. Espera até trabalhares para poderes financiar os teus próprios projectos.  

 


13.Não polua o seu corpo
 
Não fume, não abuse do álcool, não tome drogas, e reduza a junk food ao máximo. As toxinas afetam não apenas a sua saúde, mas também a sua beleza exterior - arruínam a pele, o cabelo e retiram-lhe o brilho característico da juventude. E estes hábitos influenciam a imagem que as pessoas constroem sobre si. Cuide-se.

Os jovens não “poluem” o corpo como um objectivo em si mas em decorrência das suas actividades grupais e de conquista, pelo que a observação de que “estes hábitos influenciam a imagem que as pessoas constroem sobre si” acaba por ser descabida. O simplismo destes conselhos não permite ver as situações como elas aparecem na realidade. A questão passa por saber o que cada um está disposto a fazer para chegar a determinados fins. Colocar no mesmo saco tabaco, álcool, drogas e junk food é misturar coisas com efeitos muito diferentes, algu,as que até podem ser benéficas. Na verdade, este ponto não é um conselho mas uma forma de pressão social para criar indivíduos ordenados segundo a ditadura do politicamente correcto.


14.Dê uma oportunidade aos outros
Escute as pessoas mesmo quando não concorda com elas. Tente perceber o que as leva a defender argumentos diferentes dos seus - por vezes, até há factos que pode desconhecer. Não faça julgamentos precipitados. Tenha uma mente aberta.


Não percas tempo a escutar idiotas, aproveita para estudar. Se é para ouvir alguém, escolhe quem sabe muito mais que tu e não adoptes uma postura de concordo / discordo mas de simples absorção. Quem entra para uma universidade já tem idade para se ter exercitado o bastante em discussões. Daqui para a frente, só deve entrar em discussões se a sua participação tiver uma importância moral objectiva.



15.Seja você próprio
Pare de se comparar com os outros ou de tentar ser uma cópia de alguém. Esse é um comportamento típico da adolescência que é suposto não levar na bagagem para a faculdade. Aprenda a valorizar os seus pontos fortes e tente melhorar os fracos, sem lhes dar demasiada importância.

Ao contrário do que diz o conselheiro, o adolescente é aquele que já superou a fase de comparação com outros e agora quer ser “ele mesmo”. Na realidade, este é um conselho de um adolescente tardio que pensa ser adulto apenas porque está rodeado de pessoas ainda mais infantis que ele. O universitário deveria aprender a ser eficaz e não se preocupar com quem ele é.



16. Fale com os professores
Peça ajuda sempre que precisar. Na faculdade os professores são mais distantes, mas não são inacessíveis. Conversar com eles sobre dúvidas ou dificuldades pode até contribuir para que fiquem com mais atenção ao seu desempenho e possam ajudar a abrir-lhe algumas portas quando for preciso.

Fale apenas com os professores que forem também pessoas.


17.Se quer receber, não se esqueça de dar
Em vez de se queixar que a senhora de idade que lhe aluga o quarto lhe desliga o esquentador quando se demora no duche e não o deixa cozinhar depois das 21h, já pensou em oferecer-se para lhe carregar os sacos do supermercado ou a ajudou a conversar com o neto que está em Londres, através do Skype? Se lhe tentar agradar mais vezes, talvez ela até o adote como um neto e feche os olhos a algumas coisas.

Treta. Quem dá pensando em receber já é um cretino oportunista, e ainda pode sair frustrado porque muitas pessoas nunca retribuem e gostam de se aproveitar de quem dá. Dê, simplesmente, se quiser cultivar a virtude da generosidade. Se quiser receber, então volte para a casa da mãe porque ainda não está preparado para a vida adulta.



18.As pessoas vão tratá-lo da forma que as deixar
 Está nas suas mãos o poder de determinar como as pessoas o vão tratar. Rodeie-se de pessoas positivas, bem formadas e divertidas, e mantenha as negativas ou abusadoras à distância. Esta é a forma de ter uma vida mais agradável.

Isto é quase verdade, porque toda a gente quer estar rodeada dos “bons” e afastada dos “maus”. No entanto, isto é bem mais difícil do que parece, mas a nossa aventesma não dá por isso. Para evitarmos que certas pessoas nos tratem mal temos que estar dispostos a tudo, inclusivamente a metermos a mão na cara dos idiotas, e depois ainda seremos mal vistos por todos os cobardes que não querem ver a ordem perturbada. Encontrar pessoas “positivas, bem formadas e divertidas” é difícil, talvez porque são uma minoria e estão preocupadas em fazer coisas mais importantes do que cuidar dos seus colegas infantis. Afastar-se dos negativos e dos abusadores é mais difícil do que parece porque estas pessoas não surgem logo com um rótulo pejorativo e podem até começar por vender a sua afeição. O importante é não ser um débil emocional, para não ser capturado pelos grupos parasitas, e ao mesmo tempo conseguir identificar, mediante uma espécie de ressonância não meramente afectiva, as pessoas válidas.



19. Repare como os colegas tratam os pais e... os empregados
Quando conhece alguém (especialmente alguém por quem se sinta atraído), observar como lida com os pais é um bom indicador do que poderá esperar dessa pessoa no futuro. Também a forma como trata os empregados - de lojas, cafés - diz muito sobre o seu carácter.

Finalmente um conselho que posso subscrever, contudo, tem ele noção de como se conjuga isso com outros conselhos, como aquele de dar uma oportunidade aos outros (14)? Quantas observações são necessárias para condenar e aprovar alguém? E como tratamos nós os nossos pais e empregados?


20.É possível ter boas notas e divertir-se ao mesmo tempo
O truque é fazer uma boa gestão do tempo. A universidade implica muito mais estudo do que o secundário, mas não precisa de lhe dedicar todo o tempo que passa acordado. Além disso, não é necessário estudar afincadamente todos os dias. Nas épocas de testes e exames convém reduzir as saídas, mas há sempre espaço para desanuviar. Preocupe-se em descobrir rapidamente qual o melhor método de estudo e depois encaixe a diversão no tempo livre.


Um conselho quase tão vazio como todos os outros. Entrar numa dualidade de estudo / diversão é uma das maiores causas de frustração nos estudantes, que sentem que o estudo lhes rouba o seu direito ao divertimento e que o divertimento lhes pode penhorar o futuro. Na realidade, muitas saídas podem ser tediosas e frustrantes, ao passo que o estudo pode ser divertido, em certa medida. Mais importante que isto é saber quais são as nossas motivações pessoais profundas, que para serem válidas terão que ir muito além de “estudo e diversão”.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Uma palavra ao revolucionário

Caro revolucionário,

Começo por pedir-te desculpas pela minha cobardia, uma vez que falo de indivíduo para indivíduo em vez de me dirigir a um colectivo. Sei que me devia endossar não a ti mas aos revolucionários como um todo, já em posição defensiva e receando a vossa força grupal avassaladora. Lamento não ser humilde o suficiente para me colocar, inerme, debaixo das vossas botas em marcha. Talvez um dia aprenda a ser pisado com resignação ou, melhor ainda, me junte a vós e aprenda a pisar. Até lá apenas sei falar assim de igual para igual.

Sei que queres transformar o mundo à tua imagem e semelhança. Nada mais óbvio, porque Deus morreu mas não queres ser como Nietzsche, um “super-homem” num mundo niilista, condenado a morrer abraçado a um cavalo. Ora, se Deus morreu, o lugar está vago e à tua disposição! Há quem te chame louco por esta pretensão, mas não tentarei demover-te de algo tão tentador e aliciante. Muitos de nós nunca sonharam ser Deus, mas acredito que uma vez congeminada essa possibilidade nenhuma outra será apelativa. Na verdade, se imaginas ser Deus é porque já és Deus: vê como é fácil corrigir o argumento de Santo Anselmo.

Também sei que não te posso demover da causa revolucionária falando dos massacres, dos campos de concentração ou do terror que os teus camaradas espalharam. Certamente que os massacrados merecerem o seu destino, especialmente os mais inocentes, e a história um dia irá glorificá-los como um degrau rumo à meta final. O sangue derramado fecunda a terra de futuro, e sabe-se lá quantas mais coisas sereis obrigados a fazer para combater as injustiças. Como é doce a liberdade parida pelo sofrimento atroz. Aqui não há mácula, tudo é perfeito, inebriante, como a faísca do martelo que bate na bigorna, como o grito do prisioneiro que recebe o choque na pele, como o último olhar do homem atingido pela metralha. Sim, tu és como os velhos deuses, exiges sangue, sacrifícios, ou a tua glória não é elevada aos céus.

Mas por vezes o "antigo" teima em manter-se de pé e tarda em ser esmagado pela marcha do tempo. Por isso, sei que te vês obrigado em ser um elemento corrosivo que o desfaz por dentro; és um agente cancerígeno que vai matando aos poucos, primeiro de maneira indolor, nulificando as funções, estupidificando, corrompendo. Tal como apressas a meta final da revolução, também apressas o final da sociedade tradicional, porque tanto a ascensão de uma como a queda de outra são coisas inevitáveis. Oh, quantos séculos de existência humana conseguiste abreviar com feminismo, gayzismo, abortismo, pacifismo, ecologismo, desarmamentismo. Os milénios não tiveram que esperar pacientemente para que uma nova era chegasse, pois já ali ao virar da esquina esta civilização vai perecer às tuas mãos.  

Por último, há que louvar-te por tudo o que fizeste para criar uma nova linguagem. Na linguagem antiga, por meio de muitas dificuldades, os homens ainda conseguiam entender-se e assim acabavam por se acomodar, talvez até amar o próximo. Mas tu fizeste da linguagem um elemento de incompreensão: o homem já não se encontra em terreno firme e assim já pode ser arrancado pela história e lançado no futuro, deixando-se manipular pela vanguarda do povo. O teu trabalho neste campo já vai avançado, pelo que estou consciente de que dificilmente serei entendido por quem me leia. Talvez aches que isso é uma espécie de caridade, porque se o vulgo estiver na incompreensão também não sofrerá a angústia de antever o rolo compressor que o esmagará.