terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Programa ideal de governação (2)



Nos próximos posts irei debruçar-me sobre o programa que delineei e justificarei sucintamente cada ponto, tentando mostrar as dificuldades de implementação para cada um, de forma a identificar os inimigos do país que provocaram a asfixia na qual vivemos.

1. Punição legal de José Sócrates e dos seus “camaradas” de partido – A perda de eleições não é punição suficiente para aqueles que desempenharam uma governação criminosa em toda a linha. Os portugueses adoram falar mal dos seus políticos, mas limitam as suas acusações à incompetência, mentira e corrupção. Não conseguem conceber que os políticos possam agir com o intuito deliberado de destruir um país e de escravizar o seu povo: este foi o intuito notório de José Sócrates e das cúpulas do Partido Socialista. Deixarei para mais tarde as explicações para a existência deste tipo de comportamento “democida”, mas não podem restar dúvidas que a punição correspondente só pode ser a mais severa possível.

As primeiras objecções a esta primeira medida iam ser de tipo legal e político, ou seja, a criação de um tribunal especial para julgar um governo cessante seria considerada um acto fora do edifício legislativo, ao mesmo tempo que seria visto como uma manobra ditatorial que constituiria uma séria limitação ao jogo democrático. Sem esconder as dificuldades a este nível, assumir que uma medida deste género é impossível de aplicar é o mesmo que dizer que a democracia em si é um sistema auto-destrutivo, porque dá todas as armas ao inimigo ao mesmo tempo que desarma os seus. Os verdadeiros motivos que tornam quase impossível de avançar com este tipo de medida são outros, e à cabeça está que nenhum partido quer atirar a primeira pedra porque todos têm telhados de vidro – ou seja, todos estão infestados de criminosos cujos crimes são conhecidos de muita gente –, com a excepção do Partido Comunista, que tem as suas próprias e evidentes limitações a outros níveis. Não foi por acaso que as acusações que mais dano fizeram a José Sócrates vieram de elementos isolados e sem ligações à vida política, e também, sem surpresa, ninguém com real poder apoiou a “decapitação política” desta figura que nunca devia ter sido mais que um varredor de rua.

É também fácil de perceber que o facto de todos os partidos estarem corrompidos a um grau extremo não é um mecanismo de dissuasão suficiente, já que isso apenas pode evitar que os partidos se ataquem entre si para além de um determinado limite definido através de um acordo de “cavalheiros”. Havendo um silêncio generalizado da comunicação social e de outros sectores com alguma voz na sociedade portuguesa, isso significa duas outras coisas: primeiro, todos os sectores relevantes da sociedade portuguesa estão minados de elementos criminosos, seguros por uma solidariedade grupal; segundo, existe uma hierarquia que controla os vários círculos concêntricos de potencial de acção, assegurando que elementos “relapsos” das camadas abaixo tenham as suas capacidades de acção confinadas a áreas de relativa insignificância e que as eventuais denúncias que façam sejam imediatamente abafadas pelos níveis acima. Então, isto quer dizer que há alguém acima dos partidos, dos jornalistas, dos juízes, etc., cujo nível de informação e as possibilidades de acção são incomparavelmente mais elevados do que aqueles que aqueles que possuem os indivíduos das camadas abaixo, ao mesmo tempo que se encontram muito menos vulneráveis que estes pelas próprias características de uma hierarquia secreta/discreta. Esta cúpula é relativamente fácil de identificar, sendo composta por muitos dos “senadores” da República, conselheiros de Estado, membros do Grupo Bildberg e altas posições da maçonaria. Contudo, fazendo estes elementos portugueses parte de redes internacionais, isto quer dizer que também somos comandados a partir de fora, considerando apenas o facto da existência destas associações informais, não entrando ainda dentro dos factores institucionais.

Uma implicação prática para o cidadão comum é que vai apenas poder votar, para os principais posições políticas, em indivíduos que já foram pré-seleccionado pelas cúpulas, precisamente por serem facilmente pressionáveis – pessoalmente ou através de pessoas próximas –, de forma a que o sistema se auto-preserve. Mas não é apenas nos políticos que os portugueses não podem confiar: todas as posições de destaque na hierarquia pública e mesmo muitas posições em domínios privados são comandados por interesses da “cúpula”.


2. Anulação do resgate financeiro nos actuais moldes e saída da UE e do Euro – Obviamente que não defendo o mesmo que aqueles que andam por aí a berrar para a troika sair do país, porque eles nada mais querem que voltar ao antigo modelo ruinoso de “desenvolvimento”, baseado em crédito e recusa da produção. É também significativo que muitos dos que querem a troika fora do país queiram mais ajuda europeia, quando essa ajuda é sempre um eufemismo para perda de soberania. O que proponho é um caminho novo, fora da União Europeia, fora do Euro, mas também assumindo as responsabilidades pelas dívidas contraídas. O caminho é mais político do que económico, já que é a economia que segue a política, e se decidirmos ser politicamente independentes também o seremos economicamente, na medida do possível e do desejável. Quem conhece minimamente a natureza do FMI e da UE sabe que é um contra-senso achar que estas organizações podem nos ajudar a sermos independentes, já que elas existem precisamente com o pressuposto de que os países são controlados através do seu endividamento. Os regates financeiros servem apenas para garantir que endividamento não atinja valores que possam colocar todo o sistema em risco, e por isso a “cura” é sempre cosmética, sendo apenas um ganhar de tempo para a próxima situação de endividamento excessivo, ao mesmo tempo que no processo os países vão perdendo a soberania para os organismos internacionais.    

As pressões para impedir este tipo de medida são sobretudo externas, vindas também daqueles que internamente apoiam a “construção europeia”, onde se inclui a “cúpula” referida no ponto anterior. Portugal é um país que tem apenas soberania suficiente para o povo colocar bandeiras do país nas janelas quando joga a selecção portuguesa de futebol e pouco mais. Não estamos aqui propriamente a falar dos inimigos de Portugal mas dos seus donos, que agora nos pedem para sermos um bom exemplo. Portugal é um país irrelevante em termos europeus, mas a sua saída da UE poderia precipitar decisões idênticas de outros países mais importantes. Certamente que os nossos governantes seriam ameaçados em privado com os piores cenários, provavelmente que a “Europa” iria promover uma guerra civil em Portugal e a sua provável anexação a Espanha. Mas há que ter coragem e lutar pelo que é nosso.

Depois da entrada para a CEE, os portugueses viveram anos dopados pelos milhões que vinham de Bruxelas. Centenas de milhões de contos, na altura, deixaram todos hipnotizados, e ninguém realmente tentou fazer um balanço económico sobre o que realmente ganhamos e perdemos. Politicamente esse balanço é óbvio: uma perda completa de soberania. Hoje, se não estamos mais pobres estamos seguramente mais fracos, mas desiludidos, mais cínicos e mais incapazes de enfrentar o futuro. Querem nos fazer crer que apenas podemos sobreviver dentro de UE, e por isso temos que aceitar tudo o que ela exija. Esta é uma ideia que aposta no nosso medo e na crença de que somos incapacidades de ver a realidade. Mas não há nenhum fatalismo histórico sobre nós, inúmeras possibilidades encontram-se em aberto, especialmente se sairmos debaixo do jugo das instituições europeias.


É precisamente este o ponto que fará com que as elites europeias tentem impedir a saída de Portugal da UE a todo o custo. Apesar de Portugal ser um país irrelevante no actual contexto europeu, num outro contexto as coisas podem ser bem diferentes, com a exploração da ZEE exclusiva e das ligações históricas no Atlântico e, quem sabe, até em paragens asiáticas. Tudo isto pode parecer uma fantasia quimérica, de quem não sabe virar certas páginas da História, mas na verdade, longe de querer reviver o passado, trata-se apenas de explorar alternativas naturais, que nos tentam vedar do imaginário através de manobras de controlo de pensamento inventadas precisamente por idiotas que acreditam ter nas suas mãos as chaves da História apenas porque têm mais dinheiro do que os outros. Basta imaginarmos Portugal fora da UE afirmando-se novamente como um potência global – isto mostraria que é falsa a “inevitabilidade” da integração europeia e que as alternativas podem ser bem mais proveitosas. Este seria um dos golpes mais sérios na credibilidade do projecto europeu, porque se Portugal sobreviver e vencer “fora da Europa” todos os outros podem sonhar com o mesmo.