quinta-feira, 14 de março de 2013

Programa ideal de governação (9)


13. Restruturação da comunicação social – Está mais que na hora de acabar com a ditadura mediática de uns quantos grupos económicos e ideológicos e implementar uma verdadeira liberdade de expressão em Portugal. Nenhum órgão de comunicação social deve poder continuar a funcionar se mentir sistematicamente, porque isso tem tanto a ver com a liberdade de expressão quanto a máfia tem a ver com a liberdade de associação. Todos nós crescemos num ambiente mediático e temos dificuldade em perceber que não se trata de um fenómeno natural para o ser humano. A concentração dos órgãos de comunicação de massas – que concentra também os produtores de imagens, sentimentos e pensamentos que são vendidos a todos pela industria de ficção –  encerra as pessoas numa jaula conceptual de uma pobreza atroz, o que se traduz numa moralidade luciferina e num rastejar pelas camadas mais baixas da personalidade humana. O ser humano não está naturalmente capacitado para reagir às imposições mediáticas e nem se dá conta que vive uma existência infra-humana, ignorando totalmente o seu potencial. A acção desenvolvida pelos meios de comunicação de massas, mais do que uma traição ao país, é uma traição à espécie humana.

Restruturar a comunicação social nestes moldes entra num âmbito mais alargado do que o de um programa de governação (como acontece com muitas medidas aqui delineadas e também por isso o programa é chamado de “ideal”). O programa ideal de governação só poderá ser colocado em prática parcialmente por um governo oficial, ficando o restante a cargo de um exército espiritual e intelectual, que se organiza espontaneamente na sociedade, e que por vezes tem que, saudavelmente, se opor ao próprio governo, sem que isto implique uma renúncia aos símbolos que as mais altas instâncias oficiais encarnam. No actual quadro em que vivemos, é impossível destituir os “pedófilos mediáticos” dos seus postos, não existindo enquadramento legal para tal. Isto também acontece com uma série de outras medidas que elenquei, o que só mostra o quanto a sociedade está desprotegida contra a sua própria destruição. Então, o programa em si pressupõe a sua aplicação, em grande parte, num momento excepcional, em que o país é refundado. É vã toda a esperança numa mudança profunda mantendo a estrutura actual e, sobretudo, mantendo as pessoas que hoje ocupam os postos mais importantes na sociedade, que não são necessariamente os mais visíveis. Então, é óbvio que não estou delineando um plano na esperança de algum partido existente o adoptar e tentar colocar em prática. Este é apenas um primeiro instrumento de trabalho que visa criar condições para recolocação do país nos eixos, dos quais já saiu quase há dois séculos, e não espero vê-lo a ser implementado em tempo da minha vida transcorrente. É, no entanto, necessário que o plano se basei nas circunstâncias actuais, mas escolhendo nelas o que é essencial e não os acidentes mais vistosos.


14. Encerramento do ministério da educação e transferência da gestão das escolas para as autarquias – Para implementar algo assim há que vencer a oposição de todos os pedagogos modernos, autênticos pedófilos intelectuais e morais das nossas crianças, e a incapacidade dos nossos autarcas, que se especializaram em negociatas de betão e na inauguração de lupanares. Esta medida não implica a demissão total do Estado central em relação à educação, podendo este manter uma componente avaliadora de desvios gritantes e que assegure que alguns “serviços mínimos” estejam sempre assegurados. O Estado pode ainda patrocinar umas poucas instituições de referência que sirvam de exemplo sem este ser obrigatório. O fim do ministério da educação é fundamental para limitar os militantes do abandalhamento da sociedade, que são especialistas em parasitar este tipo de organismos centrais, e depois tornam-se hegemónicos no seu interior. No caso da educação, eles transformaram-na conscientemente numa estupidificação das crianças e dos jovens. Claro que a transferência para as autarquias corre o risco dos parasitas se deslocarem para aqui, pelo que esta medida, como todas as outras, não é para ser vista isoladamente mas dentro do conjunto, nomeadamente à luz da promoção da municipalidade, o que implica que os municípios têm que assumir responsabilidades na colecta de impostos.

Este tipo de medida já foi bastante debatida em vários “fóruns”, e aqui saliento que a sua implementação terá sempre um sucesso reduzido se não estiver enquadrado num contexto mais alargado e coerente (o que não exclui tensões), que tento ilustrar neste programa. Na realidade, a melhor forma de descredibilizar boas medidas é lança-las num contexto onde elas não têm hipóteses de ser bem-sucedidas, o que se aplica a todas ou quase todas as medidas que listei. Por isso, desenganem-se aqueles que se iludem por alguns políticos que “até dizem umas coisas acertadas”, porque eles simplesmente fazem eco de algumas inquietações de forma a libertar tensões, para depois, se forem mesmo obrigados a avançar com certas medidas, já sabem que elas irão falhar e vão apelar a uma resignação que mantenha o regime tal como ele é.

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